sábado, 19 de julho de 2008

Tem coisas que a gente lê que precisa dividir... Não aceite menos do que isso.

"Você está pra fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.
Eu só preciso lhe dizer de novo essas coisas simples antes de abordar questões que, não faz muito tempo, têm me atormentado. Por que você está tão pouco presente no que escrevi, se a nossa união é o que existe de mais importante na minha vida? Por que, em Le Traitre, passei uma imagem de você, que a desfigura? Esse livro deveria mostrar que minha relação com você foi a reviravolta decisiva que me permitiu desejar viver. Por que, então, deixar de fora essa maravilhosa história de amor que nós tinhamos começado a viver sete anos antes? Por que eu não disse o que me fascinou em você? Por que eu a apresentei como uma coitadinha, "que não conhecia ninguém, que não falava uma palavra de francês e que sem mim teria se destruído", se você tinha o seu circulo de amigos, fazia parte de um grupo de teatro de Lausanne e era esperada na Inglaterra por um homem determinado a se casar com você?
Na verdade, não explorei em profundidade aquilo a que me propunha ao escrever Le Traitre. Para mim, ainda restam questões a serem compreendidas e esclarecidas. Preciso reconstituir a história do nosso amos para aprender todo o seu significado. Ela foi o que me permitiu que nos tornássemos o que somos; um pelo outro, um para o outro. Eu lhe escrevo para entender o que vivi, o que vivemos juntos."

A história você encontra em:

Carta a D.
História de um amor

Um livrinho muito, mas muito simpático de André Gorz

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